O Parque Nacional Serra do Divisor vive um dilema estranho. O Ministério do Meio Ambiente com o apoio da ONG Conservação Nacional propôs para a Unesco no dia 30 de janeiro a inclusão do parque como Patrimônio Mundial. Uma semana depois, a embaixadora do Brasil na ONU, Eliana Zugaib, envia uma carta informando que o Brasil decidiu retirar a proposta.
É possível que você nunca tenha ouvido falar no Parque Nacional Serra do Divisor. É justamente este um dos objetivos da inscrição da região na lista da Unesco. Divulgar a área e atrair recursos para preservar e administrar o turismo e pesquisas na região. O parque registra o ponto mais a oeste do Brasil, marcando a fronteira entre o Acre e o Peru.
Uma porção de 8 mil quilômetros quadrados abrigando a maior biodiversidade de todo território amazônico. Em 1989, durante o governo de José Sarney, a região recebeu o status de Parque Nacional Serra do Divisor com objetivo de proteger o ecossistema e estimular o turismo e pesquisa consciente. Curiosamente, 28 anos depois, é o Sarney Filho quem deu esclarecimentos sobre a posição do ministério sobre a retirada da proposta de elevar o parque à condição de Patrimônio Natural da Humanidade.
Diz que aguarda esclarecimentos para o Ministério da Defesa por ser uma região de fronteiras. Como refresco para memória, nossa tríplice fronteira com a Argentina e Paraguai é patrimônio da humanidade com o Foz do Iguaçu – o que não representa qualquer ameaça para o País – pelo contrário.
Atualmente, o Brasil possui 20 sítios incluídos na lista de Patrimônios da Unesco. O último elevado ao título foi o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. A Itália lidera a lista de países com mais inscrições, esbanjando 51 patrimônios mundiais no território.
O Brasil tem até amanhã para se posicionar. Cada país pode indicar um local para a lista de patrimônios por ano. Feita a indicação, um grupo de cientistas dos países membros da Unesco avaliam a relevância histórica e ambiental da indicação, podendo levar dois anos de análise até a validação do título. Enquanto isso, teremos tempo de sobra para fazer discutirmos a questão na esfera política e na mídia.
O que não podemos é perder a vez. Portanto, faço meu apelo às autoridades que reveja a retirada do Parque Nacional Serra do Divisor.
Coincidentemente, o destaque da seção de Ciências do New York nesta semana são figuras geométricas gigantescas escavadas no território do Acre que intriga pesquisadores desde os anos 1970. No estilo do filme “Os Sinais”, estrelado por Mel Gibson em 2002, o território amazônico acreano conta com pelo menos 450 círculos e quadrados formados por valas de até 12 metros de largura e profundidade que podem ter até 2 mil anos. O estudo das formas pode revelar hábitos dos moradores da Amazônia muito antes da chegada dos portugueses.
Enquanto os norte-americanos valorizam os registros históricos do Acre, os brasileiros caminham para trás dos processos de reconhecimento da região.